Texto-Base: Mateus 9: 14 – 17
INTRODUÇÃO
Conviver com publicanos e pecadores por várias ocasiões, enquanto os discípulos de João e os fariseus se abstinham de tais convivências, e ainda praticar certa medida de austeridade, mais cedo ou mais tarde acabaria conduzindo ao momento de questionamento que encontramos nesta porção do Evangelho de Mateus 9: 14-17. Sem mais delongas, vamos refletir sobre essa história!
1. O questionamento dos discípulos de João (o Batista) (Mt 9: 14)
- Mesmo depois da prisão de João (Mt 4.12), alguns de seus discípulos continuaram como um grupo distinto (Jo 3: 25,26);
- Esses “discípulos de João” querem saber por que é que, enquanto eles e os fariseus jejuavam com frequência, os discípulos de Jesus não jejuavam;
- Contrastando os fariseus, esses discípulos se aproximaram de Jesus de maneira direta e franca;
- MAS, se esses homens fossem estudantes criteriosos das Escrituras, não teriam feito essa pergunta a Jesus! Com certeza, teriam conhecido que:
- O único jejum que poderia derivar-se da lei de Deus era aquele vinculado ao dia da expiação (Lv 23: 27); e
- Que o que Deus exigia não era um jejum literal do seu povo, mas amor, tanto na esfera vertical quanto na horizontal, com base em Is 58: 6, 7 e Zc 7: 1-10;
- Havia uma razão importante pela qual, para os discípulos de Jesus, esse tipo de jejum seria impróprio:
2. Podem os amigos do noivo estar de luto, enquanto o noivo está com eles? (Mt 9: 15a)
- Jesus aqui compara sua presença na terra com uma festa de núpcias;
- Reiteradamente as Escrituras comparam a relação dentre Deus e seu povo, ou entre Cristo e sua igreja, com o laço de amor entre o noivo e a noiva (Is 50.1ss; 54.1ss; 62.5; Jr 2.32; 31.32; Os 2.1ss; Mt 25.1; Jo 3.29; 2Co 11.2; Ef 5.32; Ap 19.7; 21.9);
- O v. 15 fala sobre “os filhos dos aposentos nupciais”, significando “os amigos (ou assistentes) do noivo”;
- Estes eram amigos do noivo. Permaneciam junto a ele;
- Haviam sido convidado para as nupciais, tinham o encargo dos arranjos e se esperava que fizessem todo o possível para promover o êxito dos festejos;
- É como se Jesus dissesse: “É um absurdo os assistentes do noivo jejuando enquanto a festa está em andamento!”;
- Os discípulos do Senhor de luto enquanto seu Mestre está realizando obras de misericórdia e enquanto palavras de vida e beleza gotejam de seus lábios: Que coisa sem nexo!
3. Mas dias virão em que lhes será tirado o noivo, e então hão de jejuar (Mt 9: 15b)
- Esta é uma predição antecipada da morte de Cristo na cruz. Mas aqui também podemos entender que o luto em conexão com ela não seria de longa duração, conforme João 16.16-22;
- Por meio da ressurreição de Cristo, o luto seria substituído pela alegria;
- A lição comunicada aqui é a seguinte: A nova ordem das coisas introduzida por Jesus, em sua vinda, trouxe cura aos enfermos, libertação aos endemoniados, liberdade das preocupações aos angustiados, purificação aos leprosos, alimentação aos famintos, restauração aos inválidos e, acima de tudo, salvação aos perdidos em pecado;
- E isso não combina com os antigos moldes de jejum instituídos pelo homem.
4. Remendo de pano novo em roupa velha. Vinho novo em odres velhos (Mt 9: 16-17)
- PANO – Se colocar um remendo de lã (não encolhido) numa roupa já desgastada, o resultado será que, quando a peça não-encolhida se molhar e encolher, rasgará as bordas da costura. O remendo que deveria consertar a ruptura original, agora produzirá uma ruptura ainda maior;
- VINHO – O odre era geralmente feito de pele de cabra ou de ovelha. Após ser removida do animal, era curtida e, depois que os pelos eram cortados, a pele era virada de dentro para fora. A abertura do pescoço se transformava na boca da “garrafa”. As demais aberturas, nos pés e na cauda, eram fechadas com cordas.
- Naturalmente, um odre velho não servia para vinho novo, que ainda está em processo de fermentação, porque tal vinho tende a esticar o recipiente;
- Um odre novo é suficientemente elástico para resistir à pressão, mas em condições semelhantes um odre velho, seco e rígido, se romperia. O vinho derramaria e o odre para nada mais serviria;
- “mas coloca-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam” (v.17), prossegue Jesus;
- Pano novo e vinho novo representam a salvação pela graça, os odres velhos simbolizam a salvação pelas obras da lei;
- Ao falar sobre o remendo novo em pano velho, Jesus diz que é inapropriado tentar costurar a Nova Aliança nas antigas práticas cerimoniais judaicas. Ao falar do vinho novo em odres velhos, Jesus diz que esses rituais cerimoniais da Antiga Aliança não comportam a realidade da Nova Aliança;
- Tudo isso significa que os rituais da Antiga Aliança apenas apontavam para a Nova Aliança. Eles cumpriram seu papel e cessaram. Tentar continuá-los após a chegada do Messias seria como usar remendo novo em pano velho; ou colocar vinho novo em odres velhos.
5. Aplicações Práticas
- Estar com Jesus é uma experiência prazerosa, tal como uma exuberante e alegre festa de casamento (Mt 9.15). Na presença de Jesus se descobre toda a efervescência da vida. Isso nos faz entender que um cristianismo arrasado pela tristeza é uma impossibilidade;
- Nesta vida, nenhuma alegria dura para sempre (Mt 9.15b). Um dos fatos inevitáveis da vida é que toda alegria chega a seu fim. É por isso que devemos confiar em Jesus, que é o mesmo ontem, hoje e pelos séculos. Somente Deus permanece em meio às distintas alternativas e circunstâncias da vida. Até as relações humanas mais amáveis algum dia podem terminar.
- Somente a alegria celestial dura para sempre. E, se a temos em nossos corações, nada nem ninguém nos poderá tirá-la;
- Estar com Jesus também é um grande desafio. E que desafio é este? O de ser feliz por ser e estar com Ele, e manter-se feliz carregando a Sua Cruz. O grande desafio é saber que o caminho cristão oferece alegria, mas também traz sangue, suor e lágrimas, que não podem eliminar a alegria, mas que também são tremendamente reais e devem ser enfrentados;
- Querer viver a Nova Aliança tentando cumprir os rituais da Antiga é acreditar erroneamente que a salvação se dá pelas obras da lei e não pela graça. E viver dessa forma, significa anular o sacrifício de Cristo;
- Não devemos abolir a Lei, mas entender que ela serviu de aio para Cristo. Dessa forma, não são os rituais ou quaisquer sacrifícios que façamos que nos dará a salvação, mas simplesmente a Graça de Deus, pela qual somos salvos mediante a fé, não sendo isto em nada mérito nosso, mas O PRESENTE de Deus (Ef. 2. 8-9).
CONCLUSÃO
O que Jesus quis demonstrar é que a salvação que Ele trouxe não estava em sintonia com os jejuns dos quais a nota de alegria se achava completamente excluída, e que isso era especialmente verdadeiro no tocante a seus discípulos, os homens que se mantinham no mais íntimo relacionamento com ele.
O vinho novo do resgate e das riquezas para quantos alcançaram essas bençãos, mesmo que sejam publicanos e pecadores, deve ser derramado nos novos odres da gratidão, da liberdade e do serviço espontâneo para a glória de Deus.
Que Deus continue falando aos nossos corações!
Por Linaldo Lima
Site Oficial: linaldolima.com