Texto Bíblico: Lucas 22: 2 – 6.
Para que entendamos a história de Judas, precisamos falar de Simão. E quem foi este? Na verdade, foi o pai daquele que seria discípulo e traidor de Jesus. Simão Iscariotes ganhou fama como lutador sob o regime que antecedeu ao de Roma, mas que não conseguiu seu objetivo (a independência de Israel). Quando seu filho nasceu (Judas), os vizinhos tiveram suas esperanças renovadas. “PRESTE ATENÇÃO ÀQUELE ALI”, diziam alguns. “Um dia ele será um homem de Deus”. O sobrenome de Judas veio de seu pai, provavelmente em referência ao lugar onde ele fora criado. Em aramaico, Ish-keriot significa “homem de Queriote”.
Ele era filho da tribo de Judá, criado no coração da Judéia, e tinha o honrado nome de Judas – Será que poderia haver algum judeu mais leal em todo Israel? Judas era o zelote admirável e decidido vindo da cidade de Queriote, na Judéia. Pois bem, esse distinto homem judeu foi escolhido para ser um dos doze discípulos diretos de Jesus, recebendo o mesmo treinamento e os mesmos benefícios da proximidade com o Filho de Deus. Por fim, ele inspirou confiança suficiente para guardar e administrar o dinheiro de todo o grupo (Jo 13: 29).
Entretanto, algo aconteceu dentro de Judas que o levou a seguir um caminho muito diferente dos demais. Ninguém sabe exatamente quando isso aconteceu, embora Jesus tenha dado uma dica. Após Jesus saciar a fome dos cinco mil homens e suas famílias, estes começaram a pensar numa maneira de estabelecer o mestre como seu rei, e derrubar o governo atual. Isso era tudo o que Judas queria ouvir. Mas “sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à sua força, retirou-se novamente sozinho para o monte” (Jo 6: 15). Como diz Swindoll (2008), “isso deve ter confundido Judas enquanto ele corria para o mar da Galileia com os outros discípulos e entrava no barco como o Mestre lhes havia orientado”.
Logo após esse fato, Jesus proferiu um discurso profundo e duro para a multidão ao redor (João 6: 55-58), que os fizeram retirar, deixando somente os doze com Ele. Depois, Jesus também perguntou se os doze também queriam ir com os outros, o que eles recusaram; por fim, deu uma oportunidade ímpar para que Judas externasse suas frustrações, mas ele se calou (Jo 6: 67-71).
Corroborando com Swindoll (2008), aquele teria sido o momento ideal para Judas dizer “Ajuda-me, Senhor. Eu sou essa pessoa. Perdi a confiança em ti, e as sementes do ressentimento germinaram. Tenho medo do rumo que as coisas vão tomar. Salva-me”. Mas ele não fez isso. Permaneceu calado, enquanto Pedro falava pelo grupo e declarava a lealdade de todos.
1. A vida dupla de Judas (Jo 12:5-6).
Resumindo e contextualizando, Jesus e seus discípulos viajaram a Jerusalém para a celebração da Páscoa e dos Pães Asmos e aproveitou para visitar seu amigo Lázaro e suas irmãs (Marta e Maria), pouco tempo depois de ressuscitá-lo. Certa noite, um homem de Betânia – que Marcos o chama de “Simão, o leproso” (Mc 14: 3) e Lucas o identifica como fariseu (Lc 7: 39) – deu um grande banquete e convidou Jesus, seus discípulos e várias outras pessoas estimadas, como Lázaro e suas irmãs. Foi nesse jantar, que Maria usou um jarro de alabastro com um perfume caríssimo para ungir os pés de Jesus, fato que demonstrou uma revolta sem igual de Judas. A verdade é que o tesoureiro de confiança já estava desviando os fundos do grupo havia algum tempo. E depois de ver quase um ano de salário desaparecer por entre as rachaduras de um chão de pedras, Judas não suportou.
O pecado secreto transforma a mente e torce os valores de uma pessoa. Geralmente, as pessoas que desviam dinheiro raramente roubam muito na primeira vez. À medida que o desvio se torna um hábito, eles racionalizam seu pecado com o objetivo de preservar algum senso de dignidade. Enquanto isso, o ciclo de compulsão e vergonha vai criando uma separação entre seus pensamentos particulares e uma imagem pública cuidadosamente elaborada, esta última aceita como seu verdadeiro eu.
O mesmo é verdadeiro em relação a qualquer pecado. Um enorme abismo entre a pessoa pública e o eu particular sempre se inicia com uma pequena rachadura, uma decisão de ocultar o pecado. A isso chamamos de vida dupla.
Judas já estava cultivando uma vida dupla havia meses (ou anos). Sua fachada religiosa mantinha um forte ressentimento, que fez questão de deixar oculto aos outros discípulos. Ninguém suspeitava de seu pecado secreto. Quando repreendeu o “desperdício” de Maria, Judas de alguma maneira tentou chamar a atenção de todos para a mesma denúncia. Tanto conseguiu que a maior parte dos presentes na casa passou a condenar Maria por uma razão ou outra. Como Jesus enxergou a verdade, tratou logo de assumir o controle da situação e colocou todos em seu devido lugar.
Sendo assim, fica mais fácil entender a expressão que Lucas se refere a Judas no texto base da nossa reflexão, quando diz que “Satanás entrou em Judas”. Dos doze discípulos, Satanás escolheu aquele que nutria um pecado secreto e cultivava uma vida dupla. Fica claro, portanto, que Satanás encontra maior liberdade para trabalhar à mediada que aumenta o abismo entre as imagens pública e particular de uma pessoa. Judas criou uma porta, e Satanás entrou sem ser notado.
Não podemos afirmar com certeza o que Judas sabia no momento em que se tornou ferramenta de Satanás. Ele achava que seu desejo de libertar Israel da tirania de Roma justificava praticamente qualquer meio que fosse necessário. Até mesmo a ideia de trair um amigo fiel não pesou em sua consciência.
2. Confundindo arrependimento com remorso (Lc 22: 48; Mt 27: 4).
Depois de “entregar” Jesus aos principais líderes judeus, e perceber que os julgamentos de seu mestre diante dos líderes religiosos mostraram que ele já estava condenado antes mesmo de sua prisão, deixou Judas completamente surpreso. Vencido pelo remorso¹, ele tentou desfazer o que já tinha feito, mas foi tarde demais (Mt 27: 4). Judas tentou devolver o dinheiro, mas os principais sacerdotes se recusaram a aceitar de volta as trinta moedas de prata que lhe haviam pagado.
Agora, o traidor se viu incapaz de viver com seu pecado, mas também sem disposição para se arrepender dele, saiu, encontrou uma árvore distante perto de um despenhadeiro e, naquela mesma noite, enforcou-se. Na morte, Judas deixou de fazer a necessária conexão entre remorso e arrependimento, assim como fizera na vida. Ele nada aprendera dos anos que passou com Jesus. A escolha de dar fim à vida, em vez de confessar seu pecado e buscar perdão, simplesmente consumou a hipócrita vida dupla que Judas já cultivava havia meses.
No final, Judas morreu como sempre viveu, emaranhado num secreto caso de amor com o pecado.
3. Lições para o Judas que há dentro de nós.
“Isso pode Arnaldo?” A regra é clara: Pode sim. A história de Judas pode se tornar a nossa, pois o pecado secreto é um assassino que não faz distinção entre pessoas, e aqueles que acham que estão imunes são os mais vulneráveis de todos.
Sendo assim, a partir do trágico exemplo de Judas, podemos considerar quatro princípios dignos de nossa reflexão. São eles:
1) A associação com o que é espiritual não garante que nos tornamos pessoas espirituais. Pertencer a uma igreja sadia e cultivar relacionamentos com pessoas espiritualmente maduras devem ser prioridades. Contudo, a simples associação com esses crentes não nutrem a alma, do mesmo modo que simplesmente se sentar à mesa não nutrirá o nosso corpo. Para nos desenvolvermos espiritualmente, devemos incorporar pessoalmente aquilo que Jesus ofereceu, nos submetendo à verdade que recebemos por meio de sua Palavra. Caso contrário, enganaremos a nós mesmos e nos tornaremos nossos piores inimigos;
2) A corrupção moral em segredo é mais mortal que a corrupção moral visível. Não há câncer mais mortal do que aquele que não é detectado. O mesmo é verdade em relação ao pecado. Manter nossa natureza pecaminosa escondida nos impede de aplicar o remédio que Jesus forneceu por meio do dom da salvação (1Jo 1:9). Deixar de confessar e receber perdão nos força a lidar com os efeitos mortais do pecado de uma maneira que certamente causará mais dano depois. Custou a vida de Judas!
3) Satanás e seus demônios estão procurando qualquer oportunidade para trabalhar contra o Senhor. A pessoa que carrega pecados não resolvidos dentro de si é um vaso perfeito por meio do qual Satanás pode atacar as pessoas e os planos de Deus (Gn 4:6-7; Ef 4:25-27; 5:15-16; 1Pe 5:6-8). Assim como foi com Judas, depois que Satanás provocou todo o dano que poderia realizar, então permite que o vaso seja consumido pelo pecado que carrega;
4) Nenhuma tristeza pode se comparar ao remorso de alguém que descobre tarde demais que não entendeu as palavras de Jesus e desprezou seu amor. O engano é a principal ferramenta do diabo. Uma vez que tenha acabado de usar alguém, ele cruelmente desmascara a verdade para revelar as consequências das escolhas estúpidas feitas pela pessoa. Dessa forma, será muito difícil suportar o combinado de vergonha, humilhação, arrependimento, autocondenação e desprezo.
O remédio para a vida dupla foi dado pelo próprio Jesus. Ele disse: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (João 8:31-32).
#XôVidaDupla… #PermaneçamosEmCRISTO!
Por Linaldo Lima
(Sermão baseado nas lições extraídas do livro “Jesus, o maior de todos” / Charles R. Swindoll; Mundo Cristão, 2008 – (Série heróis da fé)).
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¹Remorso – 1. Aflição, tormento de consciência, por um ato mau que se praticou; 2. Revolta da consciência contra uma ação pecaminosa ou culpável; remordimento.