Textos-Base: Mateus 16: 16-18 / 1 Timóteo 3: 15.
INTRODUÇÃO
Gostaria de começar esse estudo fazendo as seguintes perguntas: O que é a Igreja? Quem a projetou? Qual a sua importância? Qual o seu fundamento? Qual é o seu papel na sociedade contemporânea? Pois bem, foi para responder a essas e outras perguntas que poderão surgir que elaboramos uma série de estudos de Eclesiologia, que é a doutrina que estuda a origem e fundamentação da Igreja de Cristo.
A igreja foi projetada e criada por Deus. É a Sua maneira de prover alimento espiritual para o crente e oferecer uma comunidade de fé através da qual o Evangelho é proclamado e a sua vontade progride a cada geração. A Igreja existe como a concretização do Reino de Deus e não pode existir desvinculada deste. É na Igreja que este reino tem o seu começo e sua concretização primária.
A importância da Igreja dificilmente poderá ser superestimada. Deus comprou-a com o sangue de seu próprio Filho (At 20: 28). Cristo ama a sua Igreja, cuida dela e a valoriza (Ef 5: 25, 29), e um dia ela se apresentará diante dele sem mácula, em toda sua glória (v. 27).
1. Nomes Bíblicos da Igreja
No Antigo Testamente (AT) são empregadas duas palavras para designar a Igreja, a saber, qahal (ou Kahal), derivada de uma raiz qual (ou Kal) obsoleta, significando “chamar”; e ‘edhah, de ya’adh, “indicar” ou “encontrar-se ou reunir-se num lugar indicado”.
‘Edhah é propriamente uma reunião resultante da combinação, e, quando aplicada a Israel, denota a sociedade propriamente dita, formada pelos filhos de Israel ou por seus chefes representativos, reunidos ou não. É a palavra mais usada em Êxodo, Levítico, Números e Josué, mas está ausente de Deuteronômio e raramente se vê nos livros posteriores.
Por outro lado, Qahal denota propriamente a reunião do povo de fato. Essa palavra aparece numerosamente em Crônicas, Esdras e Neemias. Entretanto, nos últimos livros da Bíblia (no AT), qahal é geralmente traduzida por ekklesia.
O Novo Testamento (NT) também tem duas palavras que denotam o termo Igreja, as quais são ekklesia, de ek e kaleo, “chamar”, “chamar para fora”, “convocar”, e sunagoge, de sun e ago, significando “reunir-se” ou “reunir”. Esta última é empregada exclusivamente para indicar as reuniões religiosas dos judeus, ou os edifícios em que eles se reuniam para o culto público (Mt 4.23 / At 13. 43 / Ap 2. 9; 3. 9).
O termo ekklesia, porém, geralmente designa a Igreja do Novo Testamento, embora em poucos lugares indique assembleias civis comuns (At 19. 32, 39, 41). A preposição ek, de ekklesia (ekkaleo), muitas vezes é interpretada no sentido de “dentre as massas do povo comum” e indicando que a Igreja consiste dos eleitos, chamados para fora do mundo da humanidade. Jesus assevera em Mateus 16: 18: “…Edificarei a minha Igreja”. Essa é a primeira entre as mais de 100 (cem) referências no Novo Testamento que empregam a palavra grega primária para “Igreja”, que é ekklesia.
O termo ekklesia também pode vir a designar uma congregação local, uma denominação, uma causa, a igreja de caráter universal ou “invisível” ou até um prédio onde se reúne um grupo de adoradores, mas no sentido geral a palavra serve para denotar a totalidade do corpo, no mundo inteiro, daqueles que professam exteriormente a Cristo e se organizam para fins de culto, sob a direção de oficiais para isso designados (1 Co 10. 32; 11. 22; 12. 28 / Ef 4. 11-16).
A igreja é a reunião dos que foram Chamados para Fora do pecado, Fora do mundo, Fora do inferno.
2. A Doutrina da Igreja na História
A. A DOUTRINA DA IGREJA ANTES DA REFORMA
a. No período patrístico. O termo “patrístico” vem do latin “pater” (pai), e tanto designa o período referente aos pais da igreja quanto às idéias características que se desenvolveram ao longo desse período. Esse período é considerado a partir do término dos documentos do Novo Testamento (c. 100) até o decisivo Concílio de Calcedônia (451).
Começou-se a conceber a Igreja como uma instituição externa, governada por um bispo como sucessor direto dos apóstolos e possuidor da tradição verdadeira. A catolicidade da Igreja recebeu forte ênfase nesse período. As igrejas locais não eram consideradas como unidades separadas, mas simplesmente como partes componentes de uma Igreja universal.
O mundanismo e a corrupção crescentes na Igreja foram levando aos poucos a uma reação e deram surgimento à tendência de várias seitas, como o Montanismo em meados do século 2, o Novacismo nos meados do 3 e o Donatismo no início do 4, de fazer da santidade dos seus membros a marca da Igreja verdadeira.
Os primeiros pais da igreja davam ênfase cada vez maior à instituição episcopal da Igreja. Cipriano foi o primeiro a desenvolver plenamente a doutrina da Igreja em sua estrutura episcopal. Ele considerava os bispos como reais sucessores dos apóstolos e lhes atribuía caráter sacerdotal em virtude da sua obra sacrificial. Os que não se sujeitavam aos bispos perdiam o direito à comunhão da Igreja e também à salvação, desde que não há salvação fora da igreja. Agostinho não totalmente corente em sua concepção da Igreja. De um lado, ele se mostra predestinacionista que concebe a Igreja como a companheira dos eleitos. O importante é ser membro vivo da Igreja assim concebida, e não apenas pertencente a ela num sentido meramente externo. Mas de outro lado, ele é o homem de Igreja, que adere a idéia da igreja defendida por Cipriano, ao menos em seus aspectos gerais. Agostinho, então, institui que a Igreja verdadeira é a Igreja Católica, na qual a autoridade apostólica tem continuidade mediante a sucessão episcopal. Ele preparou também o caminho para a identificação católica romana da Igreja como o reino de Deus.
b. Na Idade Média. O principal grupo nesse período foram os escolásticos, que não tinham muito que dizer acerca da Igreja, uma vez que o sistema de doutrina desenvolvido por Cipriano e Agostinho estava completo, precisando apenas de uns pequenos ajustes. Mas, se houve pequeno desenvolvimento na doutrina da Igreja, esta então se desenvolveu mais e mais, rumo a uma hierarquia hermética (fechada, obscura, de difícil compreensão) e compactamente organizada e absoluta.
Surge uma nova figura nesse período: Hugo de S. Victor. Ele fala da Igreja e do Estado como os dois poderes instituídos por Deus para governarem o povo. Ambos são de constituição monárquica, mas a Igreja é o poder superior, porque ministra a salvação dos homens, ao passo que o Estado só providencia o seu bem-estar temporal. O rei ou imperador é o chefe do Estado, mas o papa é o chefe da Igreja. Há duas classes de pessoas na Igreja, com direitos e deveres bem definidos: os clérigos (dedicados ao serviço de Deus) e os leigos (pessoas de todas as esferas da vida). Passo a passo a doutrina do papado foi-se desenvolvendo, até que o papa se tornou virtualmente um monarca absoluto.
Esta identificação da Igreja visível e organizada com o reino de Deus teve consequência de longo alcance: (1) exigia que tudo fosse colocado debaixo do poder da Igreja: o lar, a escola, as ciências e as artes, o comércio e a indústria. (2) Envolvia a idéia de que todas as bênçãos da salvação chegam ao homem unicamente por meio das ordenanças da Igreja, em particular, mediante sacramentos (batismo, confirmação (ou crisma), eucaristia, reconciliação (penitência), unção dos enfermos, ordem e matrimônio). (3) Levou à gradual secularização da Igreja, visto que esta começou a dar mais atenção à política do que à salvação dos pecadores e, finalmente, os papas reivindicaram domínio sobre os governantes seculares também.
B. A DOUTRINA DA IGREJA DURANTE E APÓS A REFORMA
a. Durante o Período da Reforma. A idéia de uma Igreja infalível e hierárquica, e de um sacerdócio especial, que dispensa a salvação por intermédio dos sacramentos, não teve o apoio de Lutero. Ele considerava a Igreja como a comunhão espiritual daqueles que creem em Cristo, e restabeleceu a idéia escriturística do sacerdócio de todos os crentes. Ele defendia a unidade da Igreja, mas distinguia dois aspectos ela, um visível e outro invisível. Para Lutero, a Igreja invisível se tornava visível pela administração da Palavra e dos sacramentos, e não pelo governo de bispos e cardeais, tampouco pela chefia do papa. Lutero admitia que a Igreja visível sempre conterá uma mistura de membros fiéis e ímpios. Os anabatistas não ficaram satisfeitos com a posição de Lutero e insistiam numa Igreja só de crentes e exigiam completa separação de Igreja e Estado.
b. Durante e após o século 18. Durante o século 18 o Racionalismo também fez sentir sua influência sobre a doutrina da Igreja. Era indiferente em matéria de fé e não tinha entusiasmo pela Igreja, que ele colocou a par com outras sociedades humanas. Para Schleiermacher (1768-1834), a Igreja era essencialmente a comunidade cristã, o corpo dos crentes animados pelo mesmo espírito. Ele via a essência da Igreja no espírito e companheirismo cristão. Quanto mais o Espírito de Deus penetrar a totalidade dos crentes cristãos, menos divisões haverá e mais perderão elas a sua importância.
CONCLUSÃO
Para concluir, devemos deixar claro que a Igreja não foi criada somente para proporcionar a reunião dos participantes do Reino de Deus, mas principalmente para cumprir a missão deixada por Jesus. Moody (D. L.) coloca que a missão pode ser resumida em três principais aspectos: “como martyria (testemunho), diakonia (serviço) e koinonia (comunhão)”. São estas as tarefas que servem de base para compreender e cumprir a missão da igreja. Desses três aspectos da missão, a questão do testemunho rege o enfoque central da aplicação. “O testemunho é a missão central da igreja em todas as situações” (MOODY, 429). Esse testemunho inclui o referente à pessoa e obra de Cristo, como também os demais aspectos da aplicação da mensagem de Cristo no âmbito completo do Seu ministério. Ele deve ser aplicado em parte através do serviço cristão como também no contexto da comunhão cristã.
BIBLIOGRAFIA
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3ª Ed. São Paulo, Cultura Cristã, 2009.
RYRIE, Charles Caldwell. Teologia Básica – Ao alcance de todos. São Paulo, Mundo Cristão, 2004.
Por Linaldo Lima
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