Textos-Base: 1 Timóteo 3: 1-7 / Tito 1: 5-9.
A temática deste estudo se propõe a responder a seguinte pergunta: Qual é a quantidade de organização necessária para se ter uma igreja local? Antes de qualquer coisa, precisamos esclarecer o termo “igreja local”, que se trata de uma assembleia de pessoas que professam sua fé em Cristo, que foram batizadas e que estão organizadas com o propósito de fazer a vontade de Deus(Ryrie, 2004).
Um dos motivos que explica a existência de diferentes tipos de igreja é justamente o amplo debate sobre os aspectos específicos de sua organização. Tomaremos a Igreja primitiva como exemplo de organização (e não podia ser diferente), que contava com seus membros logo no seu início (Atos 2: 41; 4: 4), depois escolheu ajudantes para os apóstolos (Atos 6: 1-7), organizou algumas atividades principais (4: 32-37)) e reconheceu seus principais líderes (11: 30). Entretanto, antes de discorrermos sobre esses pontos, precisamos também conhecer os tipos de governo da Igreja e, com isso, identificar alguns exemplos práticos nos dias de hoje.
1. Os Tipos de Governo da Igreja
Os principais tipos de governo da Igreja são o Nacional, Hierárquico, Congregacional e Federativo, que serão destacados a seguir.
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Governo Nacional. Uma Igreja nacional é um grupo de igrejas organizadas sob a liderança do Estado ou limitada às fronteiras de um país. O governo de Estado pode permitir ou não a coexistência de igrejas livres juntamente com a Igreja nacional; pode ou não coletar os dízimos e estar envolvido no apoio a cada Igreja em particular. Independente dos detalhes dessa relação entre Igreja nacional e Estado, existe uma relação formal, e ela constitui as características básicas dessa forma de governo da Igreja. Como exemplos de Igrejas nacionais, temos a Igreja Anglicana (Inglaterra) e a Luterana (na Alemanha e alguns países escandinavos).
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Governo Hierárquico. Nesse sistema de governo, parte do clero que toma as decisões está organizada em ordens ou classes, cada uma subordinada a seu superior. No sistema metodista, a hierarquia é menos absolutista; na Igreja Episcopal, a hierarquia da autoridade é mais destacada; na Igreja Católica Romana, porém a autoridade se baseia totalmente na hierarquia, conduzida até sua instância maior (o papa). O governo da Igreja da Inglaterra (anglicana) combina formas de governo tanto nacional quanto hierárquico.
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Governo Congregacional. Esse sistema de governo entende que a autoridade maior do governo da igreja está sobre os próprios membros. Além disso, sua percepção é a de que cada igreja constitui uma unidade autônoma. Portanto, não há outra pessoa ou organização dela além de Cristo, o cabeça. A responsabilidade é delegada a oficiais e líderes, embora, assim como os outros membros, eles possuam apenas um voto na congregação. Nesse tipo de governo, a igreja inteira é responsável pelo exercício da disciplina (Mt 18: 17; 1Co 5: 4, 5; 2Co 2: 6, 7; 2Ts 3: 14, 15), além de estar envolvida na escolha dos líderes (At 1: 23, 26; 2Co 8: 19). A Igreja Batista é o principal exemplo desse tipo de governo.
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Governo Federativo. Também conhecido como Conciliar, esse tipo de governo se refere a uma unidade individual que “entrega sua soberania individual a uma autoridade central, mas retém poderes residuais de governo”. Isso significa que os membros delegam parte de seu poder aos líderes. Dentre as denominações, os presbiterianos e os grupos reformados, em geral, adotaram o sistema federativo. Mas ele também é exercido em um bom número de igrejas independentes, por vezes chamadas de “comunidades”. As denominações com esse tipo de governo envolvem presbitérios, sínodos e assembleias gerais.
2. Os Líderes da Igreja
Antes de discorrer sobre esse tópico, precisamos dar um conceito de liderança através de uma visão bem contemporânea. O que é Liderança? E o Líder, nasce com o dom ou o adquire ao longo do tempo?
Gosto de utilizar o seguinte conceito sobre Liderança: uma atividade de influenciar pessoas e cooperar na consecução de um objetivo que seja considerado desejável. É a capacidade de levar pessoas a atingirem objetivos comuns. O líder cristão tem uma responsabilidade dupla, que são (1) a correta utilização dos dons e talentos que Deus lhe presenteou para promover o crescimento do Reino de Deus, bem como (2) ensinar o segredo da multiplicação desses talentos aos seus liderados.
Já quanto ao líder nascer ou não com o dom de liderança, o fato é que nenhum indivíduo nasce líder, nasce com traços de liderança. Para que esse mesmo indivíduo se torne líder, ele precisa participar ativamente de todos os momentos e circuitos que o possam proporcionar a oportunidade de aperfeiçoar esses traços de lideranças, bem como adquirir as competências necessárias para liderar. Como exemplo bíblico prático, podemos citar Davi que, mesmo depois de receber a unção para reinar sobre Israel, teve que esperar o momento certo para assumir seu posto (1 Sm 16: 13 / 2 Sm 2: 4-5 / 2 Sm 5: 1-3). Nesse intervalo de tempo, Deus tratou o caráter e as habilidades de Davi e os aperfeiçoou para que, após isso, pudesse liderar Seu Povo.
Uma vez esclarecidos esses pontos, agora podemos detalhar os tipos de liderança da Igreja, bem como suas qualificações. Berkhof (2009) distingue os líderes oficiais da Igreja como ordinários e extraordinários, as quais serão utilizadas para tratarmos esse tópico.
2.1. Líderes Extraordinários.
a. Apóstolos. Este nome só é aplicável aos 12 escolhidos por Jesus e a Paulo; mas também se aplica a certos homens apostólicos que assessoraram Paulo em seu trabalho e que foram dotados de dons e graças apostólicas (At 14: 4, 14; 1Co 9: 5, 6; 2Co 8: 23; Gl 1: 19). Os apóstolos tinham certas qualificações especiais, a saber:
a) Foram comissionados diretamente por Deus ou por Jesus Cristo (Mc 3: 14; Lc 6: 13; Gl 1: 1);
b) Eram testemunhas da vida de Cristo e, principalmente, de sua ressurreição (Jo 15: 27; At 1: 21, 22; 1Co 9: 1);
c) Estavam cônscios de serem inspirados pelo Espírito de Deus em todo o seu ensino, oral e escrito (At 15: 28; 1Co 2: 13; 1Ts 4: 8; 1Jo 5: 9-12);
d) Tinham o poder de realizar milagres e o usaram em diversas ocasiões para ratificar suas mensagens (2Co 12: 12; Hb 2: 4);
e) Foram ricamente abençoados em sua obra, como sinal de que Deus aprovara os seu esforços (1Co 9: 1, 2; 2Co 3: 2, 3; Gl 2: 8).
b. Profetas. O Novo Testamento também fala de profetas (At 11: 28; 13: 1, 2; 15: 32; 1Co 12: 10; 13: 2; 14: 3; Ef 2: 20; 3: 5; 4: 11; 1Tm 1: 18; 4: 14; Ap 11: 6). O dom de falar para a edificação da Igreja era altamente desenvolvido nestes profetas, e ocasionalmente eles serviam de instrumentos para a revelação de mistérios e para a predição de eventos futuros.
c. Evangelistas. Filipe, Marcos, Timóteo e Tito pertenciam a esta classe, entretanto pouco se sabe sobre eles (At 21: 8; Ef 4: 11; 2Tm 4: 5). A função deles era acompanhar e dar assistência aos apóstolos e, às vezes, eram enviados por estes em missões especiais. Seu trabalho era pregar e batizar, mas incluía também a ordenação de presbíteros (bispos ou pastores) (Tt 1: 5; 1Tm 5: 22), e o exercício da disciplina(Tt 3: 10). Ao que parece, sua obra era mais geral e algo superior à dos ministros regulares.
2.2. Lideres Ordinários.
- Presbíteros. Originária da palavra grega ‘presbuteroi, a palavra significa simplesmente “anciãos”, ou “mais velhos”; esse termo é empregado na Escritura para denotar homens idosos, e para designar uma classe de oficiais um tanto parecida com a que exercia certas funções na sinagoga. Também é utilizado a palavra episkopoi (bispos) para o mesmo termo, a qual significa “supervisores” ou “superintendentes”. Como designativo de ofício, aos poucos o nome foi sobrepujado pelo nome episkopoi (At 20: 17, 28; 1Tm 3: 1; Tt 1: 5, 7; 1Pe 5: 1, 2). Para esse mesmo sentido também foi usada a expressão poimenas(pastores) em Ef 4: 11. Esses líderes detinham a superintendência do rebanho que fora entregue aos seus cuidados. Eles tinham que abastecê-lo, governa-lo e protege-lo, omo sendo a própria família de Deus.
- Mestres. A princípio, não havia necessidade de mestres, uma vez que havia apóstolos, profetas e evangelistas. Entretanto, gradativamente, o ensino ficou cada vez mais ligado ao oficio episcopal. A declaração de Paulo em Ef 4: 11 mostra claramente que estes dois não constituem duas diferentes classes oficiais, mas uma só classe com duas funções inter-relacionadas. Em 1 Timóteo 5: 17, Paulo fala de presbíteros que trabalhavam na palavra e no ensino e, em 2Tm 2: 2, o apóstolo insta com Timóteo sobre a necessidade de nomear, para o ofício, homens fiéis e também capazes de instruir a outros.
Com o transcorrer dos tempos, duas circunstâncias levaram a uma distinção entre os presbíteros (bispos, pastores) encarregados somente do governo da Igreja, e os que também eram chamados para ensinar: (1) quando os apóstolos morreram e as heresias surgiam e aumentavam, a tarefa dos que ensinavam se tornou mais exigente, requerente de preparação especial (2Tm 2: 2; Tt 1: 9); e (2) justificados pelo fato de que o trabalhador é digno do seu salário, os que estão empenhados no ministério da Palavra foram liberados doutros trabalhos para poderem devotar-se exclusivamenteao trabalho de ensinar. - Diáconos. Do grego diakonoi utilizando no NT, o termo significa “aquele que serve” e, o registro de constituição do diaconato está registrado em Atos 6: 1-6; começou a ser empregado como designativo daqueles que se dedicavam às obras de misericórdia e caridade, e, com o tempo, veio a ser utilizado exclusivamente neste sentido. Os sete homens mencionados no texto bíblico mencionado acima foram encarregados da tarefa de distribuir bem as dádivas para as agapae (festas de amor cristão), ministério que noutras partes é particularmente descrito pela palavra diakonia (At 11: 29; Rm 12: 7; 2Co 8: 14; 9: 1, 12, 13; Ap 2: 19).
Os requisitos para o ofício são muito exigentes e, nesse aspecto, concordam com as exigências mencionadas em 1Tm 3: 8-10, 12, as quais serão tratadas num tópico à parte.
3. Vocação dos Líderes e Sua Instalação no Ofício.
Devemos atentar em distinguir a vocação dos líderes extraordinários e a dos líderes ordinários, uma vez que aqueles foram chamados com um comissionamento imediato ou direto de Deus, enquanto que estes, de maneira ordinária e através da instrumentalidade da Igreja.
a. A vocação dos líderes ordinários é dupla:
(1) Vocação interna. Não devemos confundir o termo interno como sendo uma probabilidade de indicação extraordinária de Deus, mas antes em certas indicações providenciais dadas por Deus, que inclui três coisas principais: (a) a consciência de estar sendo impelido a alguma tarefa especial do reino de Deus, por amor a Deus e sua causa; (b) a convicção de que o indivíduo tem de que está intelectual e espiritualmente qualificado para o ofício em questão; e (c) a experiência de que Deus está pavimentando o caminho que leva à meta.
(2) Vocação externa. Esta chega pela instrumentalidade da igreja local. Tanto os líderes como demais membros da igreja tomam parte dela (At 1: 15-26; 6: 2-6; 14: 23). O que se vê é que os líderes guiavam a escolha que o povo fazia, chamando a atenção para as qualificações necessárias que se exigiam para o ofício, mas deixavam o povo tomar parte na escolha propriamente dita (At 1: 15-26; 6: 1-6; 1Tm 3: 2-13).
b. A investidura dos Líderes no ofício. Há dois ritos principais relacionados coma investidura ou instalação.
(1) Ordenação. Esta pressupõe a vocação e o exame do candidato ao cargo de liderança (1Tm 4: 14). É a condição necessária para o exercício da liderança ministerial. Podemos lhe chamar, sumamente, de reconhecimento e confirmação públicos da vocação do candidato para este ofício.
(2) Imposição das mãos. A ordenação é acompanhada pela imposição das mãos e, fato é que ambas andavam de mãos dadas nos tempos apostólicos (At 6: 6; 13: 3; 1Tm 4: 14; 5: 22). Naqueles tempos primitivos, a imposição das mãos implicava em duas coisas: Significava que uma pessoa era separada para certa função, e que algum dom espiritual especial lhe era conferido. Entretanto, a imposição das mãos é apenas uma indicação simbólica do fato de que alguém é separado para o ofício ministerial na Igreja.
4. As Qualificações para a Liderança da Igreja.
Duas passagens mencionam as qualificações para os líderes da Igreja (bispos, pastores). São elas: 1 Timóteo 3: 1-7 e Tito 1: 5-9. A maioria dessas qualificações diz respeito ao caráter do obreiro. Reunindo os textos acima, teremos uma lista com 13 itens relacionados ao caráter, 01 em relação à vida familiar e 02 em relação á maturidade espiritual, a saber:
1. Irrepreensível; 2. Esposo de uma só mulher (aqui Paulo está proibindo tanto a poligamia quanto a promiscuidade); 3. Temperante; 4. Sóbrio; 5. Modesto; 6. Hospitaleiro; 7. Apto e disposto para ensinar; 8. Não ser dado ao vinho; 9. Não ser violento; 10. Ser cordato; 11. Inimigo de contendas; 12. Não deve ter amor ao dinheiro; 13. Não deve ser irascível; 14. Que governe bem a sua casa; 15. Não neófito (os novos crentes devem se tornar seguros e fortes na fé antes de aceitar posições de liderança na igreja. É muito frequente a igreja que tem falta de obreiros colocar prematuramente novos crentes em posições de responsabilidade. A nova fé precisa de tempo para amadurecer); e 16. Que dê testemunho da verdade.
Os itens acima qualificam um indivíduo para exercer as funções ordinárias de liderança na Igreja.
Ser um líder da Igreja é uma responsabilidade pesada, principalmente porque a Igreja pertence a Deus. Esses líderes não devem ser eleitos por ser eleitos por serem populares, nem deve ser permitido que forcem sua trajetória até o topo. Em vez disso, devem ser escolhidos pela igreja por seu respeito à verdade, por aquilo que crêem e pelo modo como vivem. É louvável desejar ser um líder espiritual, mas os padrões exigidos são altos.
As listas de qualificações mostram que, viver uma vida irrepreensível e pura exige esforço e autodisciplina. Todos os crentes devem se esforçar para seguir estas diretrizes porque são compatíveis com o que Deus diz ser verdadeiro e correto.
BIBLIOGRAFIAS
- RYRIE, Charles Caldwell. Teologia Básica – Ao alcance de todos. São Paulo, Mundo Cristão, 2004;
- BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3ª Ed. São Paulo, Cultura Cristã, 2009;
- BÍBLIA de Estudo Aplicação Pessoal. Versão Almeida, Revista e Corrigida. 1995.
Por Linaldo Lima
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