Texto-Base: 1 Samuel 13.13-14
Falar de Davi para nós, além de todas as outras características que preenchem quase todos os sermões que já foram pregados nos púlpitos de nossas igrejas, é falar de alguém cuja história se assemelha muito com a nossa, no que diz respeito a essência do que acontecia nos bastidores da vida desse que foi o maior monarca de toda a história de Israel. Não é à toa que mais se escreveu sobre Davi do que qualquer outro personagem bíblico (cerca de 66 capítulos, sem fazer referência as 59 referências feitas no NT sobre a sua vida).
Mas que passe longe de nós qualquer pensamento de que, pelo fato de ter muita coisa escrita sobre Davi, inclusive de ter recebido o título de “homem segundo o coração de Deus”, o valente rei de Israel tenha sido um indivíduo extraordinário, um super-herói. A Graça da história é justamente pelo contrário. Tudo começou quando uma escolha contrariou a lógica… Oi? Lógica? Que lógica? De quem?
Que tipo de pessoas Deus escolhe?
Para responder bem a essa questão, precisamos recorrer a uma passagem do Novo Testamento, mais precisamente na primeira carta de Paulo aos Coríntios. O contexto aqui trata de como as pessoas consideravam Paulo. Alguns leitores da carta eram judeus que esperam um sinal que provasse que o apóstolo era de Deus. Outros eram gregos, que se preocupavam apenas com o aspecto exterior e superficial. A vida interior do indivíduo não tinha significado para eles. Os gregos da época se impressionavam com a intelectualidade, músculos e beleza. Vejamos, portanto, o que diz o texto sagrado:
“Irmãos, contemplai a vossa vocação! Pois não foram convocados muitos sábios, de acordo com critérios humanos, nem muitos poderosos, nem tampouco nobres. Pelo contrário, Deus escolheu justamente o que para o mundo é insensatez para envergonhar os sábios, e escolheu precisamente o que o mundo julga fraco para ridicularizar o que é forte. Ele escolheu o que do ponto de vista do mundo é insignificante, desprezado, e o que nada é, para reduzir a nada o que é, com o objetivo de que nenhuma pessoa se vanglorie perante Ele. ” (1 Coríntios 1.26-29)
Em outras palavras, é como se Paulo dissesse: “Alô, Coríntios! Olhem à sua volta. Vocês não vão encontrar muitas pessoas famosas aqui. Por que? Para que ninguém se gabe na presença de Deus”. Infelizmente, esse é um princípio que tendemos a esquecer com o passar dos tempos, porque muitos de nós continuam sendo como os gregos da época de Paulo.
Quando procuramos pessoas a quem admirar, muitas vezes ficamos impressionados com coisas das quais podemos nos vangloriar. Queremos as pessoas mais belas, mais brilhantes, as “bem-sucedidas”. Queremos o melhor. Ficamos deslumbrados com a aparência. O superficial nos impressiona muito mais do que gostaríamos de admitir. Chegamos até a eleger um presidente porque ele apresentava uma boa aparência na televisão (Fernando Collor: http://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/viewFile/2304/1949).
Entretanto, com Deus as coisas não funcionam dessa forma. É como se Ele dissesse: “Eu escolho os ‘ninguéns’ e os transformo em alguém”. Diferente de nós homens, quando Deus escolhe, Ele busca pessoas como nós, simples indivíduos de carne e osso, mas que reúnam as mesmas qualidades que encontrou em Davi. E, acreditamos piamente, que foram essas qualidades que fizeram de Davi “o homem segundo o coração de Deus”. A pergunta que não quer calar é: Que raio de qualidades são essas, pregador? Pois bem, chega de “Churumelas” e vamos a elas.
1. Espiritualidade
A primeira qualidade que Deus viu em Davi foi a espiritualidade. “O Senhor já escolheu um homem segundo o seu coração” (1Sm 13.14b). O que significa ser alguém segundo o coração de Deus? Ao analisar o contexto da história de Davi, podemos entender que significa ser uma pessoa cuja vida está em harmonia com o Senhor. O que é importante pra Deus, é importante para você; quando Ele diz: “vá para a direita”, obedecemos; quando Ele diz: “Não faça mais isso”, não fazemos. Quando Ele diz: “Isso é errado e quero que mude”, aceitamos porque nosso coração se inclina para Deus. Na essência, estamos tratando aqui de cristianismo bíblico.
Quando somos profundamente espirituais, nosso coração é sensível às coisas de Deus. É isso que Deus está procurando: Homens e mulheres cujos corações sejam completamente dEle; o que significa que não há “armários fechados” (Swindoll, 1998). Nada é varrido para baixo dos tapetes. Significa que quando agimos mal, admitimos isso e imediatamente nos arrependemos. Ficamos preocupados com as coisas que desagradam ao Senhor; ansiamos por agradá-lo em tudo o que fazemos e nos importamos com os motivos por trás dos nossos atos. Essa é a verdadeira espiritualidade e a primeira qualidade de Davi (homem segundo o coração de Deus).
2. Humildade
Vejamos o seguinte texto sagrado: “Então o SENHOR Deus ordenou a Samuel: “Até quando continuarás pranteando Saul, quando Eu próprio o rejeitei, para que não reine mais sobre Israel? Enche, pois, um chifre do melhor azeite e vai! Eis que Eu te envio à casa de Jessé, de Belém, porque escolhi um de seus filhos para torná-lo rei! ” (1 Samuel 16.1).
Ao escolher uma pessoa, Deus não exige um determinado temperamento, não se importa se o indivíduo tem carisma, não se importa com a altura, tampouco com um currículo impressionante. Ele se importa com o caráter! Duas questões são essenciais para essa qualidade, a saber: (1) A pessoa é profundamente sincera ou está só fingindo? (2) Ele (ou ela) é um servo?
Porque quando temos um coração de servo, somos humildes. Fazemos o que nos mandam, não nos rebelamos; respeitamos as autoridades; e servimos fielmente em silêncio. Davi era assim.
Devemos ressaltar também que o servo não se importa com quem recebe a glória. Muito pelo contrário: O grande objetivo do servo é fazer com que a pessoa a quem ele serve pareça melhor e tenha mais sucesso. O servo não quer que seu senhor fracasse, nem se importa com quem recebe a glória; deseja apenas cumprir a tarefa.
Enquanto os irmãos de Davi estavam no exército, travando grandes batalhas, o “coitado” cuidava sozinho das ovelhas de seu pai.
3. Integridade
“Escolheu Davi, seu servo, tirando-o dos apriscos do rebanho; do cuidado das ovelhas, seu povo, Israel, sua herança. E ele os pastoreava com a integridade do seu coração e, com a perícia de suas mãos os conduzia” (Salmos 78.70-72).
Atentemos para a palavra integridade. O termo utilizado no texto hebraico é thaman, que significa: completo, inteiro, inocente, que vive com simplicidade, sadio, sólido, forte. E o que há de tão especial nessa qualidade? Um pequeno e grande detalhe: Íntegro é o que somos quando ninguém está nos olhando (significa que que somos completamente honestos).
Se essa qualidade já era rara nos tempos de Davi, quanto mais nos dias de hoje, que vivemos a cultura de “causar boa impressão”! Essa filosofia não cabe para um homem ou mulher de Deus, pelo simples motivo que o Todo-poderoso não se impressiona com o exterior, mas concentra-se nas qualidades interiores… aquelas coisas que levam tempo e disciplina para cultivar.
Enquanto seus irmãos se vislumbravam com o serviço militar de seu país, Davi tinha a “maravilhosa” e “desafiadora” tarefa de cuidar das ovelhas de seu pai. Você já parou para pensar o quanto as atividades repetitivas e monótonas são um estorvo para os jovens? Pois bem, nem por isso Davi se desleixava no cuidado com o rebanho de seu pai. Muito pelo contrário. Quando surgiu a chance de sair da rotina (1Sm 17: 16-23), em vez de “jogar tudo para o ar” e ir curtir sua aventura, ele se mostrou fiel no cuidado com as ovelhas de seu pai (vs 20), com a encomenda aos irmãos e com o pedido de seu pai (vs. 22).
Finalizando nossa reflexão, vale salientar que Deus não está procurando espécies raras da humanidade, até porque não há. Ele busca servos profundamente espirituais, genuinamente humildes e sinceros, e que tenham integridade. Porque essas são as qualidades de um “homem segundo o coração de Deus”… Como foi Davi!
#BusquemosUmCoraçãoSegundoOdeDeus
Por Linaldo Lima
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BIBLIOGRAFIAS
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3. SWINDOLL, Charles R. Davi: Um homem segundo o coração de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 1998.
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4. MENGARDA, Alan Evaristo & BRANDÃO, Leonardo. FERNANDO COLLOR: O CANDIDATO ESPORTISTA E AS ELEIÇÕES DE 1989. Artigo acadêmico disponível na Internet via WWW, através da URL: http://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/viewFile/2304/1949. Acessado em 13/09/2015;
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5. LIMA, Linaldo. O Belo na Aparência – Cristo é a melhor essência. Sermão disponível na internet via WWW, através da URL: http://linaldolima.com/religiao/o-belo-na-aparencia-cristo-a-melhor-essencia/. Acessado em 13/09/2015.