Texto-Base: Efésios 2: 1 – 10.
Imagine que você é uma criança abandonada nas ruas de uma grande cidade. Seus pais morreram. Você não tem dinheiro nem parentes. Não sabe falar a língua local e tem que sobreviver como pode. Muitos órfãos se encontram exatamente em tal dificuldade.
Em 1850, uma onda de imigrantes chegou às costas da cidade de Nova York, no tempo em que a cidade era a maior dos Estados Unidos e ninguém tinha tempo nem dinheiro necessários para cuidar dos órfãos. Ninguém, exceto Charles Loring Brace, um pastor de 26 anos. Horrorizado com a miserável situação desses órfãos, Brace encontrou uma solução singular, que foi o “Trem dos Órfãos”. A idéia era simples: acomodar centenas de órfãos num trem que viajaria para o Oeste, anunciando nos lugarejos por onde passasse que, qualquer pessoa poderia adotar uma daquelas crianças durante a passagem do Trem dos Órfãos. O último Trem dos Órfãos viajou para o Oeste em 1929. Por esse tempo, já 100 mil crianças haviam encontrado novos lares e novas vidas. Dois desses órfãos chegaram a ser governadores; um serviu como parlamentar no Congresso dos Estados Unidos; outro chegou a ser juiz da Suprema Corte de Justiça.
A história do Trem dos Órfãos nos serve de viva parábola da mensagem de Efésios. O apóstolo Paulo transmite uma sensação parecida nessa carta, cujo conteúdo pode ser considerado como uma ampliação da parábola do Filho Pródigo (Lucas 15). Paulo descreve “as riquezas incompreensíveis de Cristo” (Ef 3: 8) que estão ao alcance de todos e identifica os cristãos como filhos adotivos de Deus, como a sua mais importante propriedade em todo o universo.
Ao chegar ao texto em destaque nessa mensagem, Paulo ensina aqueles cristãos, exortando a vida eterna não é adquirida mediante “as obras da lei”, mas é concedida pela graça de Deus. É nessa parte que reside a nossa reflexão de hoje, onde falaremos um pouco sobre essa tão grande Graça, que na maioria das vezes nos limitamos a dizer que é o “favor imerecido de Deus ao pecador”, mas na verdade ela é a maior de todas as alianças… E que teve um preço muito alto pra ser constituída (portanto, não foi de graça).
Como na aliança das obras (também conhecida como Lei), na da graça Deus é a primeira parte contratante, a parte que toma a iniciativa, e por sua graça determina a relação que a segunda parte manterá com ele. Contudo, Ele comparece nesta aliança não apenas como um Deus soberano e bondoso, mas também, e especialmente, como um Pai misericordioso e perdoador, disposto a perdoar o pecado e a restaurar os pecadores a sua bem-aventurada comunhão.
Falando da graça como uma aliança, temos por obrigação nos remeter a aliança que Deus fez com Abraão no Velho Testamento, principalmente no princípio estabelecido em Gn 21: 12, onde vemos Deus dizendo a Abraão: “Em Isaque será chamada a tua descendência”. Interpretando essas palavras, Paulo fala de Isaque como o filho da promessa e, com a expressão “filho da promessa”, ele não se refere simplesmente a um filho prometido, mas sim a um filho que não nasceu pelo processo comum, mas em virtude de uma promessa, nasceu graças a uma operação sobrenatural de Deus. Segundo Paulo, a expressão “em Isaque será chamada a tua descendência”, indica que “estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa” (Rm 9: 8).
Mas, afinal, de qual promessa estamos falando? Como resposta, podemos ratificar que a principal promessa de Deus, que inclui todas as outras promessas, está contida nas seguintes palavras: “Serei Deus para ti e para tua semente, depois de ti” (Gn 17: 7; Jr 31: 33; Ez 34: 23 – 25; 2Co 6: 16 – 18; Ap 21: 3).
A mesma idéia é expressa pelo próprio apóstolo em Gl 4: 28: “vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque”. Isso está em perfeita harmonia com o que é dito em Gl 3: 16: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente”. Esse descendente é Cristo, que inclui todos os crentes.
“…E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Galatas 3: 29).
Agora, gostaria de refletir com você em algumas características que são próprias da aliança da graça, a saber:
- É CARACTERIZADA PELA GRAÇA. Pode-se assim afirmar, porque nela Deus permite que um “Fiador” cumpra as nossas obrigações; e é nisso que encontramos um dos mistérios da graça: um justo assumir a condição de pecador para cumprir suas obrigações e salvá-lo;
- É TRINITÁRIA. O trino Deus age na aliança da graça. Ela tem sua origem no eletivo amor e graça do Pai, encontra seu fundamento jurídico no ofício de Fiador exercido pelo Filho, e só se realiza plenamente nas vidas dos pecadores pela aplicação do Espírito Santo;
- É ETERNA E INVIOLÁVEL. Quando falamos que a aliança é eterna, nos referimos à eternidade futura, e não à passada (Gn 17: 19; 2Sm 23: 5; Hb 13: 20). O fato de ser eterna implica também que é inviolável, na qual as promessas de Deus sempre são cumpridas (Is 54: 10). Ela não depende da incerta obediência do homem, mas unicamente da absoluta fidelidade de Deus. O Senhor Deus permanecerá para sempre fiel a sua aliança e sem sombra de variação a levará à plena realização nos eleitos. Entretanto, não significa que o homem não pode romper e nunca romperá a relação pactual em que se acha;
- É PARTICULAR, NÃO UNIVERSAL. Isso significa que ela não será realizada em todos os homens, que ela não se estende a todos aqueles a quem o Evangelho é pregado, pois muitos deles não querem ser incorporados na aliança. Além disso, a oferta da aliança não chega a todos, visto que há muitos indivíduos e até nações que jamais tiveram conhecimento por meio de salvação;
- CRISTO É O ÚNICO MEDIADOR. O Senhor Jesus é Mediador em mais de um sentido, pois Ele intervém entre Deus e o homem, para fazer tudo que seja necessário para estabelecer a paz. Cristo é apresentado nas Escrituras como Aquele que, tomando sobre si a culpa dos pecados, pôs termo à relação penal destes com a lei e lhes restabeleceu a correta e legal relação com Deus (Hb 8: 6). Com base no seu sacrifício, Cristo reúne novamente Deus e o homem (1Tm 2: 5).
Na Aliança da Graça encontramos um Deus voltando a se relacionar com o homem, coroa da criação, através do sacrifício deu Filho Jesus, que se tornou pecador em nosso lugar, assumiu todas as nossas culpas do pecado, morreu em nosso lugar e, ressuscitou ao terceiro dia. E essa é a essência da Graça: O favor imerecido de Deus, por meio do sacrifício Jesus.
Será que quando alguém nos dá um presente dizemos “Que bonito! Quanto lhe devo?”. É claro que não. “Obrigado” é a resposta adequada. No entanto, quantas vezes os cristãos, mesmo depois de receberem a dádiva da salvação, ainda se sentem obrigados a ter uma vida de comunhão com Deus. E isso é errado! Devemos servir ao Senhor com gratidão, louvor e alegria.
Outro fator importante, para concluirmos, é que nos tornamos cristãos pelo favor não merecido que recebemos de Deus, e não pelo resultado de qualquer esforço, capacidade, inteligência, ato ou serviço oferecido por nós mesmos. Entretanto, como prova de gratidão por essa dádiva tão graciosamente recebida, devemos ajudar nosso próximo com bondade, amor e carinho, sem a intenção de fazer um favor.
Não somos salvos simplesmente para ter um benefício, mas para servir a Cristo e edificar a Igreja (Ef 4: 2).
Que Deus continue nos abençoando.
Por Linaldo Lima
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BIBLIOGRAFIA
- BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3ª Ed. São Paulo, Cultura Cristã, 2009.
- BÍBLIA de Estudo Aplicação Pessoal. Versão Almeida, Revista e Corrigida. 1995
- BÍBLIA Devocional de Estudo. Versão Revista e Corrigida. 1997