Pr. Linaldo Lima [1]
A ressurreição de Jesus Cristo é o evento mais central da fé cristã. Ela marca não apenas a vitória sobre a morte, mas o início de uma nova criação. Um aspecto muitas vezes negligenciado na narrativa dos evangelhos é a escolha divina de mulheres como as primeiras testemunhas do túmulo vazio e da vitória do Cristo ressuscitado. Esta decisão carrega implicações teológicas profundas que, à luz da tipologia bíblica, sinalizam uma reversão redentora da queda ocorrida no Éden, onde Eva, a primeira mulher, ouviu e creu na mentira da serpente.
1 A Queda e a Voz da Serpente
No relato da criação e queda, vemos que Eva foi a primeira a ser abordada pela serpente (Gênesis 3:1), e a primeira a crer na mentira, desobedecendo à ordem divina:“Ora, a serpente era mais astuta que todos os animais do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”
Eva come do fruto e, em seguida, dá também a seu marido, Adão. A consequência foi a entrada do pecado e da morte no mundo. Contudo, em Gn 3.15, Deus promete que da semente da mulher viria aquele que pisaria a cabeça da serpente — uma profecia messiânica.
2 A Ressurreição e a Voz do Anjo
Nos relatos dos Evangelhos, as mulheres são as primeiras a chegar ao sepulcro e a ouvir a nova proclamação, não de uma serpente, mas de um anjo:“Mas o anjo respondeu, dizendo às mulheres: Não temais vós; pois sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque ressuscitou, como havia dito.” (Mt 28.5-6).
Elas recebem a mensagem da ressurreição e são incumbidas de anunciar aos discípulos: “Ide rapidamente e dizei aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos.” (Mt 28.7).
3 Tipologia Redentora: A Nova Ordem
Teologicamente, isso representa um retorno redentivo ao Éden. Como Eva foi a primeira a ouvir a mentira, agora as mulheres fiéis são as primeiras a ouvir a verdade gloriosa da vitória sobre a morte. A mulher, que participou da entrada do pecado no mundo, participa agora do anúncio da salvação.
Falando sobre isso, N.T. Wright observa o seguinte:
“O fato de as mulheres serem as primeiras testemunhas da ressurreição não é apenas um detalhe culturalmente embaraçoso… É parte da narrativa escatológica. A nova criação já começou, e ela começa de maneira semelhante à velha: com uma mulher ouvindo uma voz no jardim.” (WRIGHT, 2003).
4 A Evidência da Veracidade dos Evangelhos
A escolha das mulheres como primeiras testemunhas também serve como evidência da veracidade dos relatos evangélicos. No contexto cultural da época, o testemunho feminino não era considerado confiável. Se os discípulos estivessem fabricando a história da ressurreição, dificilmente teriam escolhido mulheres como as primeiras testemunhas.
Sobre esse ponto, John MacArthur enfatiza: “As mulheres foram as primeiras a testemunhar a ressurreição de Cristo. Isso é significativo, pois, na cultura judaica do primeiro século, o testemunho feminino não era considerado confiável. O fato de os evangelhos relatarem as mulheres como as primeiras testemunhas reforça a veracidade dos acontecimentos.”
5 A Soberania de Deus em escolher os Improváveis
A tradição reformada vê a escolha divina como soberana e intencional. Deus usa o que é fraco aos olhos do mundo para envergonhar os fortes. As mulheres, cujo testemunho não era aceito nos tribunais da época, são honradas por Deus como portadoras da mensagem da ressurreição.
O Rev. Heber Campos Jr destaca felizmente que “Deus escolhe, redime e transforma os improváveis para a glória dele.” (2024).
6 O Papel Redentor das Mulheres na História da Salvação
Desde o Antigo Testamento, as mulheres desempenham papéis cruciais na história da salvação. Sara, Míriam, Débora, Rute e outras são exemplos de fé e coragem. No Novo Testamento, Maria, mãe de Jesus, Maria Madalena e outras mulheres continuam essa tradição, sendo instrumentos de Deus em momentos decisivos.?
Quem destaca bem esse ponto é o Rev. Hernandes Dias Lopes, quando diz que “Foram as mulheres que estavam ao pé da cruz quando Jesus foi crucificado. Foram as mulheres as primeiras testemunhas da ressurreição de Cristo.”
Conclusão
A escolha de mulheres como primeiras testemunhas da ressurreição não foi acidental. Ela é uma poderosa declaração escatológica da inversão da maldição do Éden. Ao dar voz novamente às filhas de Eva, agora portadoras da verdade do Evangelho, Deus inaugura uma nova criação, onde o pecado não tem mais a última palavra e onde a graça é soberana. Que Deus nos abençoe!
REFERÊNCIAS:
BÍBLIA. Bíblia Sagrada: King James Atualizada. São Paulo: BV Books, 2011.
MACARTHUR, John. Eyewitnesses to the Resurrection. Grace to You. Disponível em: https://www.gty.org/library/sermons-library/80-134/eyewitnesses-to-the-resurrection. Acesso em 18/04/2025.
WRIGHT, Nicholas Thomas. The Resurrection of the Son of God. Minneapolis: Fortress Press, 2003.
LOPES, Hernandes Dias. Mulher: uma verdadeira heroína. Facebook, 2013. Disponível em: https://www.facebook.com/hernandesdiaslopes/posts/mulher-uma-verdadeira-hero%C3%ADna-a-b%C3%ADblia-d%C3%A1-grande-destaque-ao-papel-da-mulher-na-/520175698023493/. Acesso em 18/04/2025.
CAMPOS JUNIOR, Heber. Frase sobre a escolha dos improváveis por Deus. Instagram, 2024. Disponível em: https://www.instagram.com/filipensesquatrooito/p/C48hPEFRZ5t/. Acesso em 18/04/2025. SPROUL, R. C. The Burial of Jesus. Ligonier Ministries, 2021. Disponível em: https://learn.ligonier.org/sermons/mark-burial-jesus. Acesso em 18/04/2025.
[1] Pastor auxiliar da Igreja Batista Missionária El-Shaday. Casado com Macrina Lima e pai de Letícia Lima. É Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista Nacional (SETEBAN-PE). Bacharel em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UniNassau). Pós-Graduado em Pregação Expositiva pelo Seminário Teológico Batista Nacional de Pernambuco (SETEBAN-PE) e atualmente é Mestrando em Estudos Históricos-Teológicos pelo Centro Presbiteriano Andrew Jumper (CPAJ).

É seguir o caminho inverso de pedra não acreditar em nós mesmos vigia em oração e fugir do lugar de tentação